O Engenheiro Henrique R. de Moraes ( Engebox ) participou do Concurso Nacional promovido pela Revista Meio Ambiente Industrial em parceria com o Ministério do Meio Ambiente Ciência e Tecnologia que visava premiar idéias de projetos em MDL ( Mecanismos de Desenvolvimento Limpo ) e também projetos já implantados que possam gerar CERs ( Emissões Reduzidas Certificadas – Créditos de Carbono ) mostrando a sociedade as iniciativas que estão sendo desenvolvidas em caráter voluntário em prol da sustentabilidade. Com o projeto denominado ” Processo e Dispositivos para fabricação de briquetes a partir de finos de carvão vegetal para utilização em siderurgia ” ele obteve a 3a. colocação . Em entrevista concedida a coluna Bio – Diversidade do jornal Gazeta de Limeira ele falou um pouco sobre este trabalho.
Engenheiro Henrique o Sr poderia nos explicar qual a finalidade deste seu projeto premiado ?
– Bom dia , o principal objetivo deste projeto é permitir a utilização de resíduos de carvão vegetal no processo siderúrgico para obtenção de ferro gusa. Veja , as industrias siderúrgicas utilizam o carvão , como combustível redutor na obtenção do gusa , o carvão quando queimado libera o carbono que em contato com o minério de ferro e um fundente dão origem a liga ferro-carbono, esta liga é matéria prima para obtenção dos aços . Tanto o carvão vegetal como o carvão mineral podem ser utilizados neste processo , porém , vale ressaltar que o carvão mineral emite dez vezes mais co2 que o carvão vegetal para realização deste processo. Esta emissão de co2 por parte do carvão mineral torna-se ainda mais grave quando nos deparamos com o fato de que 25% de todo o volume do carvão vegetal produzido no Brasil , que é menos poluente , que é uma fonte renovável , acaba se transformando em pó devido a uma série de fatores , e este grande volume acaba sendo descartado do processo. Nosso projeto foi desenvolvido no sentido de recuperar este pó e reintegrá-lo no processo siderúrgico.
Quando o Sr fala em 25% , qual seria este montante para termos uma idéia ?
– Veja, o Brasil é o maior produtor mundial de carvão vegetal , o setor siderúrgico consome anualmente 9 milhões de toneladas de carvão vegetal por ano , porém , para se obter estes 9 milhões de tons foram produzidos 12 milhões de tons , esta diferença de 3 milhões de toneladas são estes 25 % , este volume é simplesmente descartado por não alcançar a granulometria mínima necessária para entrada no processo.
Quais fatores causam este descarte ?
– O grande problema do carvão vegetal é que ele é muito friável , quebra com facilidade , e desde a obtenção do carvão nas carvoarias até a sua efetiva queima nos alto fornos o carvão sofre inúmeras quebras devido movimentação mecânica que sofre , tais como : retirada do forno , carregamento para o caminhão , viagem até a siderúrgica , descarga , peneiramento , carregamento do forno, assim toda esta movimentação provoca quebras que inutilizam 25% deste combustível , sendo que todo o material com granulometria inferior a 9 mm é descartada.
Esta granulometria fina atrapalha o processo no alto forno ?
– Sim claro , este material com esta granulometria fina não permite a passagem de ar necessário para a combustão entre os pedaços de carvão , podemos assim dizer , e acaba apagando a combustão e brecando a reação que necessita deste calor para acontecer.
E este material descartado fica sem utilização ?
– Sim , fica sem utilização , ou empilhado em montanhas de resíduos ou utilizado em escala muito reduzida em outros segmentos ou ainda sendo utilizado de maneira incorreta por outros , um problema ambiental .
Como se dá o reaproveitamento deste pó de carvão ?
– O processo é a principio bastante simples e consiste basicamente na obtenção e preparação de um aglomerante vegetal que irá colar as pequenas partículas do carvão para reconstituí-lo , a seguir fazemos a mistura deste aglomerante com o pó de carvão , depois a compactação desta mistura em equipamento apropriado obtendo-se pequenos blocos e finalmente a secagem destes blocos.
O Sr diz que o processo é bastante simples , mas não havia sido tentado anteriormente ?
– Sim , Empresas do setor siderúrgico e também de outros segmentos vinham tentando sem sucesso desde a década de 70 reconstituir este material para reaproveitamento , o problema é que o carvão para uso siderúrgico deve respeitar algumas características físico-químicas como por exemplo o percentual de carbono fixo , o teor de cinzas , a resistência mecânica , a composição química das cinzas , além de se enquadrar na questão custo x beneficio , ou seja , existem muitas variáveis envolvidas e uma resposta negativa em qualquer uma delas pode inviabilizar o processo .
Quanto tempo o Sr precisou para chegar ao produto final ?
– A dedicação a este projeto consumiu três anos de pesquisas e testes , porém antes disso já trabalhávamos com biomassa e o conhecimento adquirido nos conduziu no desenvolvimento este projeto.
O Sr disse que este combustível pode trazer vantagens ambientais, quais seriam estas vantagens ?
– A reutilização deste resíduo de carvão vegetal é importante pois permite que façamos a substituição de um combustível fóssil , no caso o carvão mineral . O carvão mineral emite dez vezes mais Co2 que o carvão vegetal , além do dióxido de enxofre que no carvão vegetal é praticamente nulo. O volume é muito grande , somente na siderurgia estamos falando de 3 milhões de toneladas anuais de resíduos de carvão que podem ser reutilizados ou ainda evitar a emissão de 6 milhões de ton/ano de Co2 substituindo o carvão mineral pelo resíduo de carvão vegetal compactado … para se ter uma idéia deste volume , um automóvel 1.0 para rodar 10.000 km emite 2,3 ton de Co2 , se dividirmos os 6 milhões de ton de Co2 pelas emissões de um veiculo destes nós teríamos uma redução equivalente a 2 milhões e seiscentos mil veículos , ou seja , o equivalente a 50% da frota de São Paulo fora das ruas.
Os números impressionam …
– De fato , eu também não esperava me deparar com números tão grandes , mas infelizmente é uma realidade que se agrava a cada dia mais e mais…depois que iniciei este trabalho pude constatar a importância do carvão vegetal neste segmento , e o quanto ele é importante para o meio ambiente…muitos desconhecem esta importância e o quanto seria importante o incentivo ao reflorestamento e ao aproveitamento de biomassas em nosso país e no mundo , fomentar a substituição do carvão mineral
Se fala muito sobre a devastação de florestas para se obter carvão , este projeto não aumentaria o desmatamento…
– Não , pelo contrário , a devastação acontece porque o carvão originário das matas nativas custa 30% do valor de um carvão obtido a partir de reflorestamento , é muito mais barato , portanto , temos aqui mais uma vantagem da recuperação dos resíduos de carvão vegetal , o custo do resíduo compactado é bem inferior ao do carvão originário da devastação , o resíduo está se acumulando há anos e anos nos pátios das siderúrgicas , e pode imediatamente concorrer contra o desmatamento ilegal , seria um concorrente para esta atividade …
Como foi a sua participação neste concurso ?
– No inicio do ano eu já havia iniciado o processo de patente deste processo e um dia assistindo um programa de TV me deparei com uma chamada para este concurso nacional , me chamou a atenção e resolvi inscrever o projeto neste concurso. Enviei o material e fiquei no aguardo , uma semana antes da premiação recebi um comunicado dizendo que o meu projeto havia se classificado entre os 10 melhores , fiquei feliz , afinal estava entre os 10 melhores do país , a grande surpresa veio na semana seguinte quando recebi outro comunicado colocando meu projeto em 3º. Lugar , e o mais gratificante foi saber que havia concorrido com Empresas , Universidades e Institutos de renome…
Por exemplo ?
– Empresas como a Arcelor Mittal , Insituto IDDEIA , a Companhia Distribuidora de Gás do Rio de Janeiro , Albras –Alumínio Brasileiro , Plantar S/A..e outros também muito importantes.
Este projeto já está em implantação ?
– Sim e Não , estamos agora na fase de dar confiabilidade aos equipamentos que vão produzir este material em larga escala , além de ajustes que são necessários em todo o processo para que tenhamos a maior rentabilidade possível. O próprio aglomerante , um bio-polímero , já se demonstra útil para utilização em outras atividades .. acho que ainda teremos boas surpresas pelo caminho…
O Sr poderia adiantar ?
– Sim , estamos trabalhando agora processo para compactar e utilizar resíduos de carvão originários de materiais menos nobres que a madeira , por exemplo , a poda de arvores produz grande quantidade de biomassa , e este material carbonizado produz carvão quebradiço e fino , e este carvão pode ser compactado e utilizado de uma forma mais produtiva, diminuindo e até evitando o corte de arvores .
Seria realmente revolucionário…
– Sim , e vai consumir bom tempo de pesquisa …
Obrigado por nos atender…
– Eu que agradeço…muito obrigado.
Para Contato e detalhes sobre este projeto:
e-mail – diretor@hengenharia.com.br
Fone – 019-9988-2-8866